quarta-feira, 23 de setembro de 2015

"Uma gota deve ser suficiente
Garoto, você me pertence
Eu tenho a receita e se chama magia negra..."
— Black Magic (Little Mix)



O sinal tocou, sinalizando o início da minha liberdade, finalmente, depois de longos anos eu finalmente havia me livrado da bendita escola.
Neev e Keny estavam me esperando na porta de saída da escola, as duas pularam e começaram a gritar, acenando os braços para mim, corri na direção delas, esbarrando em algumas pessoas durante o caminho. Me joguei nos braços das duas e gritei de empolgação; liberdade, a doce e tão aguardada liberdade.

— Acabou! Acabou!!! — gritei animada, alguns alunos que passavam ao nosso redor sorriam e gritavam de empolgação junto conosco.
— Mal posso acreditar que nunca mais terei que quebrar a cabeça com provas surpresas, meu Deus, obrigada! — gemeu Neev.
— Vamos logo, ou nos atrasaremos para a nossa sessão, depois comemoramos por ter acabado a escola — reclamou Keny, puxando Neev e eu em direção ao estacionamento da escola.
— Ah claro, vamos lá então, estou ansiosa para saber do meu futuro — debochou Neev, deixando-se ser arrastada pela destemida Keny, que estava mais ansiosa que nós duas juntas.

As meninas e eu vinhamos conversando há semanas sobre visitarmos uma cartomante, Keny estava doida para ler a palma da mão e pesquisou loucamente até encontrar uma vidente de confiança, então marcou uma consulta para nós três, toda a minha mesada vai acabar nessa sessão, a minha última mesada, já que terei que procurar um emprego agora que terminei o ensino médio e já tenho dezoito anos.
Neev pulou no banco de trás do velho — velho não, seminovo! — Audi A4 cabriolet 2002 conversível de Keny e eu ocupei o banco de passageiro, enquanto Keny se apossou do volante, colocamos os cinto de segurança e Keny ligou o rádio antes mesmo de ligar o carro.

— Escutem, meninas, eu espero que essa ida à cartomante me sirva de alguma coisa, porque não me consola gastar 50 libras em uma consulta que não vai me ajudar em nada — falou Neev, se apoiando no espaço entre o meu banco e o de Keny para nos olhar melhor.
— Eu também espero, é a última mesada que vou receber dos meus pais, espero estar gastando bem o meu dinheiro — resmunguei, Keny acenou a mão com desdém e fez uma careta.
— Vai servir, garotas, não se preocupem!

Keny dirigiu rapidamente ao som de Calvin Harris, eu dei um jeito de segurar meus cabelos, que voavam para todos os lados descontroladamente; Neev, como não é boba, havia prendido os fios loiros dela antes que entrássemos no carro. Quando Keny estacionou  o carro eu saltei para fora e penteei meus cabelos com os dedos para tentar reverter o estado deplorável que eles haviam ficado, as duas riam enquanto viam meu desespero.

— Está ótimo, Allin, vem logo! — gritou Keny, já abrindo a porta de vidro de uma lojinha excêntrica e deserta.
— É aqui? — perguntei receosa, Neev fez uma careta de descrença.
— Sim, entra de uma vez — ordenou Keny, me empurrando para dentro da lojinha.

Dentro da loja tinha um cheiro forte de incenso, espirrei uma ou duas vezes e Keny me beliscou, como se eu fosse a culpada por estar espirrando. Neev parecia animada, ela tocou as pinturas estranhas que haviam na parede e observou atentamente as estátuas espalhadas pela sala de espera, eu me sentei no sofá beje e aguardei pacientemente enquanto Keny adentrava na lojinha à procura de alguém, Neev logo veio sentar-se ao meu lado.

— Sabe, esse lugar é estranho — cochichou Neev, olhando em volta atentamente, eu concordei com um aceno de cabeça.
— Bom, estamos fazendo isso pela Keny, aguente firme — murmurei encorajando-a, ela suspirou resignada.

Esperamos quase cinco minutos até Keny voltar a aparecer, ela trouxe consigo uma senhora de meia idade, vestida com um vestido longo e colorido, seus cabelos encaracolados estavam domados por uma bandana bem bonita, ela tinha um ar misterioso mas sorria largamente, gostei dela logo de cara.

— Olá meninas, eu me chamo Dandaya, sou a cartomante que irá atendê-las — apresentou-se a mulher, Neev e eu sorrimos.
— Conversei com a Danda e ela disse que iremos uma de cada vez, eu espero que vocês concordem que eu preciso, necessito, ir primeiro! — falou Keny, sua voz soou doce, mas Neev e eu conseguimos detectar o nervosismo e a impaciência por trás da doçura.
— Claro, sem dúvidas, estaremos esperando aqui — disse Neev, balancei a cabeça, concordando.
— Ótimo, não vamos demorar, fiquem à vontade, meninas — disse Dandaya.

Elas duas desaparecem pelo corredor e Neev respirou fundo, então se virou para mim e perguntou:

— O que você acha que ela vai nos dizer? — ela parecia nervosa, balancei a cabeça e lhe abracei desajeitadamente.
— Relaxa, provavelmente dirá que nossos pais estão ansiosos para que a gente deixe logo o ninho e vá viver a própria vida. Eu espero ao menos que ela saiba se eu irei conseguir um emprego ou não — murmurei irritada, Neev riu.
— Fala sério, Allin! Você já tem duas entrevistas agendadas, para de frescura, é óbvio que você vai conseguir um emprego — resmungou Neev. — Eu é que preciso me preocupar com isso, não tenho ideia do que vou fazer da minha vida, a única coisa certa é que preciso arrumar emprego para procurar um apartamento com vocês.

Neev, Keny e eu estamos planejando arrumar um emprego e juntarmos uma grana para conseguirmos um apartamento e morarmos juntas, acontece que nós três já estamos pra lá de prontas para sair de casa e ter nossas próprias vidas, mas não podemos nos arriscar sem antes ter certeza que podemos nos sustentar. O pai de Keny conseguiu um apartamento maravilhoso que nós três podemos arcar com as despesas, só que antes precisamos arrumar um emprego e ganhar dinheiro.

— Não se preocupe, Keny disse que vai conseguir um estágio para você na empresa do pai dela, vocês vão trabalhar juntas, olha que demais — falei contente, mas Neev não se deixou convencer.
— Não! Ela disse que ia tentar. TENTAR! — guinchou Neev. — Eu preciso de algo certo, por isso quero sair amanhã, nem que seja para conseguir entrevistas de empregos.
— Eu vou com você, se quiser, mas tem que ser depois da minha primeira entrevista, que será por volta de uma da tarde — murmurei pensativa.
— Claro, nos encontramos na cafeteria quando você acabar a entrevista — ela concordou e mordiscou a unha do dedão.
— Ótimo, agora relaxe, vamos conseguir algo de útil com essa cartomante, tenho certeza — murmurei tentando convencer mais a mim mesma que a Neev, ela balançou a cabeça, mas não parecia muito crente.

Nós aguardamos por quinze minutos. Eu já estava quase arrancando os cabelos de tanta ansiedade, as unhas de Neev já estavam completamente ruídas, mas a nossa tensão se dissipou quando vimos Keny sair radiante da sala, Dandaya a seguia com um sorrisinho adorável nos lábios, senti um calafrio quando ela piscou para mim. Então ela chamou Neev, que se levantou em um pulo e a seguiu pelo corredor. Keny sentou-se ao meu lado, ainda sorridente.

— Então, o que ela te disse? — perguntei animada e curiosa, Keny guinchou e balançou as mãos, mal se contendo de tanta animação.
— Ela disse que eu vou conseguir o que tanto almejo, quer dizer, o que eu tanto quero no momento é arrumar logo um apartamento e ir morar com você e a Neev, então eu acho que é isso — ela contou animada, eu assenti e esperei por mais. —  Ela também disse que vou passar por momentos de insegurança, mas isso logo se dissipará. Eu perguntei pela minha vida profissional e ela disse que vou concluir quase todas as minhas metas, mas que terei de abdicar de algumas coisas para conseguir outras. Bem, acho que isso já era previsto, nós sempre temos que desistir de algumas coisas para conseguirmos outras, não é? Bom, tanto faz. Ela também disse que vou conhecer um cara muito especial por meio de uma amiga íntima, por tanto se você conhece um cara legal, trate de me apresentar imediatamente — ela ordenou brincalhona, me fazendo rir.
— Ótimo, perfeito, não foi tão ruim assim, espero que comigo e com Neev seja legal também, eu sou muito paranoica com essas coisas — murmurei me recostando no sofá, Keny riu e jogou as pernas dela por cima das minhas.
— Vai dar tudo certo, não se preocupe. Tenho um bom pressentimento quanto a isso — ela falou contente, respirei fundo e concordei com a cabeça,

Neev não demorou tanto quanto Keny, mas também não voltou tão sorridente como ela, pelo contrário, ela parecia um pouco cabisbaixa. Me pus de pé imediatamente e lhe dei um beijo na bochecha antes de seguir Dandaya até a sala dela.
Dandaya fechou a porta depois que passei e apontou para um poltrona em frente uma mesa pequena de madeira, em cima da mesa havia um baralho de cartas esperando para ser manuseado e alguns ossinhos de tarô, acho que era isso, eu não sei ao certo.

— Então Allin, você pode relaxar, eu não vou prever a sua morte e se prever não contarei — ela sorriu, eu sabia que ela estava brincando, mas isso só me deixou mais tensa.
— Eu, hum... O que tenho que fazer? — perguntei timidamente, Dandaya esticou o baralho em minha direção.
— Corte aqui, querida, respire fundo e relaxe — ela disse pacientemente.

Segurei uma quantidade de cartas e entreguei para Dandaya, ela examinou as cartas, franziu a testa, mordeu o lábio e separou algumas cartas em cima da mesa, olhei atentamente enquanto ela examinava as cartas.
Eu não conseguia entender nada daquelas cartas, nem sabia o que elas queriam dizer, então eu olhei para Dandaya e tentei decifrar suas expressões, mas ela era muito neutra e calma, o que era quase um insulto à minha tensão naquele momento.

— Querida, eu estou vendo aqui que sua vida está começando a andar, digo, realmente andar! — ela falou distraidamente, fiquei mais intrigada ainda. — Vejo desafios novos chegando, decisões difíceis, devo admitir, mas você consegue lidar. É uma garota esperta.
— O que mais? — perguntei curiosa, ela sorriu docemente.
— Conseguirá deixar o ninho, que é o que você tanto quer, mas antes disso vai se apaixonar, só que às vezes o amor nasce em situações estranhas. Nada vem fácil nessa vida, criança, e você saberá disso logo. Terá de lutar pra conseguir o quer, é óbvio.
— Como assim? — perguntei assustada, ela balançou a cabeça, percebi que ela não me daria mais detalhes.
— Eu vejo muito amor no seu futuro, menina, mas isso dependerá apenas de você. Vejo também que sua insegurança, seu medo de amar, pode prejudicar sua vida amorosa. A única coisa que posso lhe dizer é que deixe tudo andar como se deve, não se reprima, deixe sua vida tomar o rumo que deve.
— Em que parte do meu futuro exatamente eu vou encontrar a pessoa certa? — perguntei curiosa, ela sorriu.
— Não existe uma data correta, depende muito das suas escolhas no presente, querida. Além do mais, saber demais do futuro pode ser prejudicial. Mas, eu garanto, antes que perceba o amor baterá a sua porta. E você tem que ter em mente que não existe uma pessoa certa, você é quem escolhe se qualquer pessoa poderá ser a que você acha certa pra você.
— E quanto ao meu emprego, vou conseguir um? — perguntei mais veemente do que pretendia, Dandaya encarou as cartas e espremeu os olhos pra enxergar melhor.
— Ah, sim. É claro que vai. Tudo está alinhado na sua vida, criança, aproveite! Se você fizer a escolha certa, sua vida será fantástica. Apenas deixe seu coração guiá-la, não tenha medo do que ele pode lhe oferecer — aconselhou a cartomante, encarei-a temerosa, começando a me perguntar qual é a escolha certa.

Deixar o meu coração me guiar nunca foi o meu ponto forte, já perdi inúmeros namorados por nunca me abrir o suficiente com eles, por nunca deixar os sentimentos me dominarem. Na verdade, sempre tive certo medo de relacionamentos, sempre tive medo de me magoar e de perder o que mais me mantém forte, a minha sensatez. O meu amor próprio é o que mais admiro nas minhas qualidades, mas às vezes ele me prejudica bastante também.

— Por hoje é só, querida. Espero tê-la ajudado — falou Dandaya, nos levantamos e eu a agradeci, ela me levou de volta até a sala de espera, onde as garotas me esperavam.

Nós pagamos à cartomante e já estávamos saindo da lojinha quando Dandaya me chamou pelo nome, eu senti os pelinhos da minha nuca se eriçarem, mas mesmo assim me virei para ela.

— Allin. Diga sim, não importa o que aconteça, diga sim. Todos merecem uma segunda chance, mesmo que nunca tenham tido a primeira, realmente.
— Como assim? — perguntei confusa, ela acenou com a mão, e eu tive que ir embora com as minhas amigas.
— Diga sim, Allin, diga sim! — zombou Neev em um tom debochado, Keny riu, mas eu continuei séria, porque eu sabia que aquilo significava algo decisivo em minha vida, mesmo que eu ainda não soubesse por quê.





Um comentário:

  1. De maiss serio!! Eu sei q eh o prólogo mas posso lhe dizer q ja gostei e mtoo nunca tive a oportunidade de ir a uma cartomante mas sempre tive esta vontade!! Continuee pleasee

    ResponderExcluir

Sou como uma escritora, lanço o livro para ser comprado;
Vocês são os compradores e os comentários o pagamento u.u
Faço isso de coração e amo, mas preciso do seu comentário <3

Por: Milinha Malik. Tecnologia do Blogger.

Cupcakes Visitantes ♫♫

Translate

Talk to me!!

Instagram

Instagram

Seguidores

Agenda!